Estudo de caso nº 12
Narrativas/histórias de três irmãs
Portugal
Universidade de Coimbra
Palavras-chave
Narrativas, violência, perseguição, fuga, direitos humanos, violações, ruturas, sobrevivência
Introdução
Este caso representa histórias de refugiados, mais especificamente, narrativas de três irmãs negras do Congo, no Distrito Federal, Brasil. Estas são narrativas recolhidas em Santos, CA (2018). Uma história de refúgio: narrativas de três irmãs negras do Congo no Distrito Federal. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Universidade de Brasília, Instituto de Ciências Sociais, Departamento de Sociologia.
Retirado de: http://repositorio.unb.br/handle/10482/32721
Descrição detalhada da situação
Este acontecimento tem a ver com as narrativas de três irmãs nascidas na República Democrática do Congo, que são requerentes de asilo, negras, com baixos rendimentos e residentes no Distrito Federal (Brasil). Desde que deixaram Kinshasa (capital do Congo), enfrentaram violência, perseguição política, restrições aos direitos humanos e ruturas condicionadas pela deslocação forçada como condição de sobrevivência (devido a perseguição política).
Passaram por momentos difíceis antes e durante a sua fuga, até à sua chegada e adaptação ao país de acolhimento. Sofreram cortes/lutos e transformações (por exemplo, a morte dos pais, determinaram os caminhos das histórias vividas pelas irmãs); traumas, medos e revolta (por exemplo, casa queimada, contas bancárias bloqueadas), e estavam constantemente à procura de estabilidade e adaptação (por exemplo, emprego, habitação, educação, saúde, acesso aos direitos, relações sociais, entre outras questões), tendo expectativas de desenvolver um projeto para a sua vida futura.
Considerando o processo de interação e integração no Brasil, com base na análise da intersecção das categorias de género, raça, classe, estatuto migratório (refugiadas) e nacionalidade, observou-se que tais categorias têm um impacto em termos de desigualdades. Quanto à nacionalidade verificou-se que esta não foi fator de desqualificação no seu tratamento.
As três irmãs congolesas chegaram ao Brasil e iniciou-se um novo período das suas vidas, cheio de desafios.
O que faria para apoiar a inclusão no novo contexto?
Partilhe as suas ideias e sugestões no Fórum online!
Algumas questões para autorreflexão:
-
Como podem estes indivíduos ser apoiados ao nível da verdadeira inclusão?
-
Quais são as razões da migração e consequente (ou não) grau de vulnerabilidade e/ou necessidades ou fraquezas?
Atitude inicial
Na chegada ao Brasil foram bem-vindas pelo Instituto de Migração e Direitos Humanos (IMDH), em Brasília. Receberam apoio do Instituto com cabazes básicos, fraldas, artigos de higiene pessoal, etc.
Numa destas entregas, a autora do relato, voluntária do Instituto, conheceu as três irmãs, e "Elas receberam-me à sua maneira, muito recetiva e calorosa, com abraços, sorrisos e conversas. Nessa altura, ainda não comunicavam bem em português e as primeiras conversas foram conduzidas em francês. Trocámos contactos, tal como eu fiz com outras raparigas, e mantivemo-nos ao telefone "(p.15).
Como foi salientado em casos de migração forçada, a impossibilidade de regressar influencia especificamente a experiência migratória. Assim, notou-se que estas mulheres reuniram esforços para a sua adaptação e integração na sociedade brasileira, considerando que o trabalho é a principal condição para o processo de integração dentro da sociedade de acolhimento.
Foi observado por este estudo que estas mulheres tinham uma maior necessidade de se tornarem parte de grupos sociais. Para a sua adaptação ao Brasil e desde a sua chegada, o seu interesse era também a partilha afetiva e de amizade.
Sugestões de solução
-
Escuta ativa. As pessoas recém-chegadas têm um passado, um presente e muitas vezes não têm perspetivas para o futuro. Muitas, mesmo acompanhadas, estão sozinhas, com saudade de casa, com boas e más memórias, mas precisam de apoio: social, psicológico e em vários domínios.
-
Storytelling ou narrativas (Tópico 2) pode ser uma ferramenta útil para criar um ambiente mais acolhedor na escola.
O abandono de um local/país de nascimento em condições forçadas é uma experiência traumática que exige dos países de acolhimento a capacidade de tratar as pessoas com respeito e dignidade, orientando as políticas e intervenções pelas referências dos direitos humanos, o que significa considerar o outro como pessoa na sua integridade. O país nacional pode ser deixado para trás, mas os indivíduos não perdem, nunca, a sua condição de seres humanos. Considerando a multidimensionalidade da cidadania ativa e reunir esforços que permitam a participação de pessoas como os refugiados, implica dar oportunidades, que podem ser um benefício para estes públicos, bem como para a sociedade de acolhimento (por exemplo, o emprego). Acima de tudo, o reconhecimento de que os refugiados têm o direito de viver decentemente, onde quer que estejam, é o maior desafio, que nós, como sociedade, devemos superar.
Porque é que este caso é relevante?
O caso permite pensar sobre os processos de inclusão/integração.
Permite refletir sobre experiências de violência, perseguição política, fuga, perda de direitos humanos e ruturas condicionadas pela necessidade de fuga como condição de sobrevivência. Esta situação apresentada é importante para este projeto, uma vez que nos permite refletir sobre ela:
-
o grau de variabilidade dos motivos dos movimentos migratórios;
-
análise da relação entre os motivos de saída dos países de origem e as capacidades de integração nos países de acolhimento;
-
análise de potenciais variáveis concorrentes do processo de inclusão: variáveis mais ligadas aos sujeitos migrantes e variáveis de contextos nos países de acolhimento.
Estas narrativas permitem-nos refletir sobre várias questões:
-
ruturas e transformações;
-
traumas, medos, revoltas;
-
procura de estabilidade e adaptação;
-
expectativas para o futuro.